“Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado” – Gandalf (O Senhor dos Anéis).
Em um ano que os meios de comunicação foram forçados a se adaptar quase que completamente aos meios digitais, muitas coisas mudaram. Não apenas tivemos lives com artistas que amamos pelo Youtube ou Instagram, como também plataformas como o Zoom e Google Meet definiram a forma como muitos alunos estudaram ao longo do ano. Tudo isso com o maior esforço possível para ser à distância. Entretanto, o que esperar do futuro em um contexto que a imprevisibilidade da natureza da política humana pode mudar tudo em apenas alguns meses?
O instituto Reuters, parte integrante da Universidade de Oxford, que luta pela defesa do jornalismo independente, anualmente conecta editores de diversas redações ao redor do mundo para comentar como será o futuro do jornalismo. Dessa forma, 234 pessoas concluíram uma pesquisa fechada em dezembro de 2020. Os participantes, de 43 países, foram selecionados pela ocupação deles em cargos seniores (editorial, comercial ou produto), em editoras tradicionais ou digitais, e foram responsáveis por levantamentos acerca dos aspectos da estratégia que envolve a mídia digital e além dela.
Assim, que tal ler um pouco do que essa pesquisa espera do futuro para a área de comunicação? Vem com a gente!
Eventos presenciais e Hibridez
Obviamente, após um ano e meio de eventos online, é de se esperar que o público anseie por experiências ao ar livre após o período de vacinação e estabilização da situação sanitária do país. Desse modo, não se surpreenda caso pautas que envolvam comunicadores saindo do escritório se tornarem comuns. Esse costume pode trazer resultados muito positivos, já que torna a relação entre o jornal e comunidades específicas cada vez mais próximas.
No entanto, com a preferência do home office ao longo do período de quarentena, muitas empresas notaram as vantagens que esse modo de trabalhar pode trazer. Uma maior comunicação interna entre diversos setores e a possibilidade de redações serem distribuídas remotamente são dois exemplos disso. É por meio do surgimento de diversas ferramentas e plataformas online com qualidade cada vez maior que isso é possibilitado. Acontece que uma parte dos funcionários podem também relatar uma diminuição da criatividade, já que o trabalho se limita apenas ao ambiente, somada à um aumento da pressão da carga horária e falta de contato direto com outros colegas de trabalho.
Assim, acontecerá um hibridismo entre o trabalho online e o presencial, de acordo com as preferências de cada funcionário. No entanto, com o foco de conteúdo digital crescendo cada vez mais, é provável que funcionários com maiores conhecimentos nessas áreas comecem a se destacar cada vez mais.
A importância do Storytelling
O ano de 2020 e o atual 2021 demonstraram o quão essencial é não apenas ter funcionários especializados em áreas como ciência e tecnologia para acompanhar as mudanças que o mundo vive hoje. Mostrou-se ser indispensável também a presença daqueles que conseguem explicar esses assuntos de forma criativa e acessível . Um exemplo foi o Washington Post com o “simulador de coronavírus” que foi um dos conteúdos mais acessados do jornal em 2020, que explicou de forma bastante visual como a proliferação do vírus opera.
Nesse sentido, é cada vez mais necessária a presença de designers e até mesmo animadores em redações na hora de comunicar um acontecimento. Esses profissionais também são importantes na hora de oferecer uma melhor experiência para o usuário nos apps e sites, com mais rapidez e facilidade de uso. A área do jornalismo de dados entra cada vez mais em ascensão, já que procura utilizar todo o potencial que as plataformas digitais podem oferecer unido ao jornalismo. O jornal peruano Ojo Público desenvolveu uma ferramenta por meio da programação para detectar possíveis corrupções em compras e transações governamentais, por exemplo. Também haverá o uso de chatbots, que são simuladores de conversas já planejadas.
Além disso, é preciso focar na criação de equipes multidisciplinares, isto é, funcionários atentos às mais diversas inovações e campos do aprendizado e que, de forma conjunta, sejam capazes de aplicar esses conhecimentos de forma rápida e eficiente. Um exemplo é o podcast da CNN “Coronavírus: fact vs fiction, with Dr. Sanjay Gupta”, que foi lançado poucos dias após a pandemia ganhar notoriedade da mídia ao redor do mundo. O projeto ajudou uma quantidade notável de seguidores a entender o que eles deveriam fazer para se precaver contra o vírus que começava a devastar tantas vidas. No fim, a habilidade narrar e saber qual a melhor ferramenta para contar essas informações é indispensável para qualquer comunicador.
Desinformação e modelos de assinatura
Não é incomum tentar acessar uma notícia ou matéria e acabar se deparando com uma paywall, isto é, um tipo de bloqueio permite a leitura daquele texto apenas para os assinantes de um jornal. Nos últimos anos, a procura por fontes confiáveis para entender a situação atual do mundo aumentou e, consequentemente, a assinatura de jornais para o acesso de notícias importantes também.
De acordo com 234 editores de jornais em 42 países, por meio do Media and Technology Trends and Predictions 2021, a desinformação pode acabar por fortalecer emissoras jornalísticas maiores na função de verificar essas informações relacionadas às mensagens oficiais, investigações envolvendo governantes e de como lidar com a crise.
Dessa forma, cria-se uma relação de segurança para quem acessa o conteúdo dessas mídias mais conhecidas e estruturadas.
Esse fato ficou ainda mais em evidencia com o período da pandemia, em que muitos usuários perceberam que as informações compartilhadas em grupos de whatsapp não correspondiam ao que a ciência divulgava. Assim, o público passou a acessar diretamente uma fonte de notícias que trouxessem informações mais confiáveis e seguras.
No entanto, com o período da pandemia sendo lentamente estabilizado, é de se imaginar que muitos desses assinantes não terão uma ânsia tão grande por notícias e cancelarão essas assinaturas. Uma das estratégias utilizadas será a de oferecer pacotes que disponibilizem uma série de conteúdos além do acesso às notícias, como podcasts, vídeos, receitas e eventos exclusivos para assinantes. E também descontos para estudantes, pessoas que perderam o emprego e para quem possui origens desfavorecidas.
A presença de curadores humanos também será um destaque. Por meio de newsletters, os usuários poderão receber determinados conteúdos selecionados e compilados em um e-mail ou podcast, que é uma mídia que tem crescido cada vez mais (embora a acessibilidade para conteúdos transcritos ou legendados para surdos não apareça na mesma proporção). Além disso, é provável que um mesmo conteúdo seja compartilhado de diversas maneiras, com um podcast sendo transformado em artigo ou vídeo para as redes sociais no IGTV ou Youtube, por exemplo.
Dessa forma, serão construídas principalmente experiências diversas que podem resultar até mesmo em acordos de exclusividade de conteúdo com determinadas plataformas, como o podcast “Café da Manhã”, da Folha, que só pode ser acessado pelo Spotify.
Com cada vez mais dispositivos e a conectividade de diversas redes coexistindo no nosso cotidiano, o futuro será pautado em experimentar conteúdo, o qual é expressado por vários canais, com tudo que a nossa atual época procura oferecer.
Você pode ler o artigo completo do Instituto Reuters aqui: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/journalism-media-and-technology-trends-and-predictions-2021
-Italo Marquezini
perfeito sempre!!