Segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (2018), o suicídio é a segunda principal causa de morte dos jovens entre os 15 e 29 anos. Mesmo sendo entendido como um ato de múltiplas determinações, a tentativa prévia que culmina no ato suicida é fator determinante para que o suicídio na população em geral tenha êxito.
Seja por questões de desordem psiquiátrica ou por funcionamento de química cerebral, o evento suicida acarreta uma série de transformações intrafamiliar e social, sendo, por esse motivo, visto como um grave problema de saúde pública. Apesar das complexidades das circunstâncias que envolvem o ato suicida, este pode ser evitado com intervenções de baixo custo através da análise dos sinais que o indivíduo emite.
Vale ressaltar, que o esgotamento mental é cada vez mais comum pela própria dinâmica do cotidiano. Diante do isolamento decorrente do evento pandêmico, as particularidades individuais e o modo de vivenciá-las se tornam cada vez mais sensíveis. É por essa razão que os sinais de tendências suicidas não podem ser interpretados de maneira isolada.
Não é de difícil compreensão que, se determinado indivíduo possui pensamentos e/ou comportamentos suicidas seu real desejo não é, na maioria dos casos, que a vida cesse, mas que as razões que lhe provocam desconforto atingiram níveis extremamente difíceis de serem suportadas.
A psique humana é centrada no sentir, assim, existem diversos fatores que são capazes de vulnerabilizar o animus de um indivíduo. São exemplos:
- Aparecimento ou agravamento de problemas comportamentais e surgimento de manifestações verbais incomuns;
- Preocupação com a própria morte;
- Isolamento excessivo;
- Ausência de autocuidado;
- Fatores externos como: perda de emprego; crises emocionais constantes e duradouras; crises no relacionamento ou no seio familiar; crises políticas e econômicas; discriminação e/ou bullying por discriminação étnico-racial, sexual ou religiosa; perda de um ente familiar; e, doenças crônicas, dolorosas ou incapacitantes.
Ainda, em diálogos cotidianos podem surgir frases como:
“Eu não aguento mais”.
“Eu quero/vou desaparecer”
“Eu preferia estar morto”.
“Eu não posso/consigo fazer nada”.
“Eu sou um peso para os outros”.
“Minha ausência não faz diferença/ As pessoas seriam melhores sem mim”.
“Eu não sou bom o suficiente”.
Não se pode pautar na premissa que determinada pessoa não teria coragem de por fim a sua própria vida, pois, conforme já dito, a soma de circunstâncias é fator crucial para reiteradas e sucessivas tentativas de suicídio. É de fundamental importância que o indivíduo que manifeste pensamentos suicidas externados dialogue com alguém de sua confiança, seja amigo ou auxílio profissional, sentindo-se à vontade para tal.
Diante da liquidez e superficialidade das relações atuais, é extremamente difícil que alguém coloque à tona suas vicissitudes em vão. Portanto, se alguém nos pede auxílio este não há de ser negado, sob pena de insensibilidade ou até mesmo consequências irreversíveis. Assim, é direito de quem solicita auxílio:
a) Ser ouvido com a devida atenção e respeito;
b) Ser respeitado e levado a sério nas circunstâncias levantadas e consideradas pertinentes; e,
c) Ser encorajado a se recuperar e aprender com as situações adversas.
Identifiquei uma pessoa sob o risco de cometer suicídio, o que devo fazer?
– Crie um momento oportuno para conversar sobre o assunto advertindo sobre as adversidades que todos temos e sobre a normalização da fuga da dor. Elabore uma atmosfera que demonstre como aquela pessoa é singular e importante;
– Faça com que o indivíduo saiba que você está lá para ouvi-lo e não para levantar julgamentos;
– Se esta pessoa está sob seu convívio, diminua o acesso a todos os recursos disponíveis que possam provocar-lhe a morte – medicamentos, pesticidas, cordas, armas de fogo, materiais cortantes, entre outros;
– Incentive e sugira algum tipo de ajuda profissional. Se puder, acompanhe em algum atendimento;
– Caso julgue que a pessoa encontra-se em estado de perigo imediato, procure ajuda profissional dos serviços de saúde sugeridos (último tópico logo abaixo). É importante não deixa-la sozinha durante esse período até que a prestação do serviço profissional seja, realmente, efetivada.
Sugestões de locais especializados para se buscar auxílio profissional:
- Centro de Valorização da Vida – CVV: Ligação gratuita para o número 188;
- Centros de Atendimento Psicossocial – CAPS;
- Consultórios de Atendimento Psicológico;
- Unidades Básicas de Saúde – Postos de Saúde Familiar (PSF) e Centros de Saúde em geral;
- Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s 24H);
- Clínicas e Hospitais.
Toda vida é válida, todo ser é igual em importância.
Campanha da AVRA em apoio às Políticas Públicas do Ministério da Saúde voltadas ao Combate e Prevenção à Autoagressão, Automutilação e ao Suicídio.
Por Douglas Vinícius.
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