Nos dias atuais, as conversas fluem de forma muito mais virtual do que presencial. Antes mesmo do período de pandemia, já era bem comum que relacionamentos surgissem e empresas fechassem negócios por meio das redes sociais. A cada dia encontramos novos meios e plataformas cada vez mais inovadoras para enviar e receber mensagens.

Desse modo, a comunicação se apresente de formas bem mais complexa hoje em dia. Todavia, a fala ainda é uma ferramenta essencial para qualquer ambiente, seja ele familiar ou profissional. Portanto, é essencial ter como foco alguns conceitos para que todas essas outras vertentes do diálogo que tanto dependemos sejam utilizadas com atenção, simpatia e, principalmente, curiosidade.

Simplesmente esteja lá”

Em uma palestra TED sobre “7 maneiras de conversar com qualquer pessoa”*, Malavika Varadan, apresentadora da rádio City 1016 e educadora de teatro, diz que é essencial estar verdadeiramente presente no momento em que uma conversa ocorre. É necessário que haja um esforço para ouvir o que determinada pessoa tem a dizer sem estar com o celular em mãos ou a mente focada em outro lugar, por exemplo. Dedicar-se a ouvir é uma atitude genuinamente gentil que resultará em uma reciprocidade, já que é bem provável que a outra pessoa note a atenção que você está oferecendo e faça o mesmo quando for a sua vez de falar.

Ademais, o detalhe favorito da comunicadora é justamente o contato visual em um momento como esse, visto que essa ação demonstra uma tentativa autêntica de se mostrar aberto para que aquele diálogo não seja interrompido e apenas flua.

Não é preciso reprovar em uma primeira conversa”

Varadan também comenta sobre a importância de encontrar assuntos simples a serem comentados, sem que uma interação cotidiana vire uma prova de quem sabe mais ou menos. É possível estabelecer conversas muito boas quando temas que ambos concordem ou experiências, a princípio, semelhantes para os envolvidos são trazidas à tona. É o exemplo de duas ou mais pessoas que nasceram em uma mesma cidade, mas cada uma delas terá uma experiência diferente dependendo do bairro ou época que nasceram. É muito menos intimidador começar diálogos dessa forma do que puxar assunto ao perguntar sobre uma determinada opinião política ou uma notícia polêmica

Inclusive, muitas vezes é possível ter conversas produtivas mesmo que ela se inicie com uma discordância. Enquanto uma pessoa pode detestar filmes de terror e a outra amar, é bem mais interessante dialogar sobre como cada um se sente assistindo a um filme como esse do que simplesmente transformar tudo em um debate que claramente não funciona. É muito mais sobre ouvir como o outro se sente em relação a um assunto do que cair em jogo de perguntas de “sim” ou “não”, “concordo” ou “discordo”.

Eu cresci meio que sabendo que todo mundo tinha algo escondido e incrível a mostrar”

De acordo com Celeste Headlee, oradora e apresentadora da série semanal Retro Report na PBS, é preciso entrar em uma conversa com o pensamento de que um aprendizado será ganho no final desta. O ato de ouvir, para ela, é um dos mais relevantes, principalmente se esse for feito sem o intuito de só responder de volta. É muito mais sobre buscar entender o próximo do que procurar atentamente em qual ponto as opiniões divergem. A apresentadora até mesmo cita Buda em sua palestra TED “10 modos de ter uma melhor conversação” (em tradução livre) ao explicar que quando alguém está falando muito em uma conversa, essa pessoa perde a oportunidade de ouvir o que os outros têm a dizer também, o que é justamente o contrário de uma conversa que, a princípio, poderia ser produtiva.

Por mais que essas dicas sejam bastante simplórias quando se considera a complexidade com que as relações humanas acontecem hoje, ainda assim são princípios que remetem a empatia e o aprendizado em situações rotineiras, desse modo, valem sim ser reforçadas em uma época cada vez mais polarizada em que vivemos.

É importante ressaltar que somos responsáveis por deixar a língua cada vez mais acessível para todos. Nessa perspectiva, é importante saber e compartilhar, por exemplo, que a USP oferece um curso gratuito de libras que você pode conferir no link abaixo*, junto com as palestras TED que inspiraram a escrita desse texto.

A fala é uma ferramenta poderosa que não precisa ser usada apenas para saciar vontades ou reforçar opiniões dos envolvidos, a fala de cada um deve ser valorizada. Se é de conexões que o ser humano precisa, que elas aconteçam de forma recíproca, interessante e, principalmente, curiosa.

– Italo Marquezini

*Língua Brasileira de Sinais – EaD: https://eaulas.usp.br/portal/course.action?course=6085

**Palestras TED:

https://www.youtube.com/watch?v=cSohjlYQI2A

https://www.youtube.com/watch?v=R1vskiVDwl4

https://www.youtube.com/watch?v=F4Zu5ZZAG7I