Relatos sobre doenças psicológicas existem desde a Antiguidade. Contudo, o assunto era permeado de achismos e mitos que dificultavam sua plena compreensão. Foi apenas a partir do século XIX que o tema teve sua devida atenção, assim, desenvolvendo técnicas de análise e estudos sobre a questão, permitindo humanizar as formas de tratamento. Em 1992, entendendo a importância do assunto na sociedade, a Federação Mundial de Saúde Mental criou o Dia Mundial da Saúde Mental, instituído no dia 10 de outubro.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as patologias mentais têm atraído cada vez mais atenção global nos últimos anos, porém não recebeu investimentos proporcionais. Isto pode ser observado através do dado fornecido pela OPAS de que, em países de baixa e média renda, 75% da população com problemas de saúde mental não possuem acesso aos tratamentos. Além disso, em média, os países gastam apenas 2% de seus orçamentos de saúde para o tratamento mental. Já no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o suicídio tira a vida de uma pessoa por hora no país, mesmo período no qual outras três tentaram se matar sem sucesso.

A necessidade de tornar o tratamento mais acessível e de desestigmatizar o assunto ficou ainda mais evidente durante a atual pandemia do coronavírus. Indivíduos que já possuíam quadros depressivos ficaram ainda mais isolados; profissionais da saúde, que trabalham diretamente com pacientes infectados pela COVID-19, passaram a viver em constante preocupação de trazer o vírus para casa e para seus entes queridos; os trabalhadores tiveram seus empregos e meio de subsistência ameaçados; os alunos tiveram seu ano escolar interrompido durante meses e, quando as atividades foram retomadas, tiveram que se adaptar ao modelo de aula online.

Todos os setores da sociedade foram afetados pela pandemia, que trouxe uma sensação de extrema instabilidade, facilitando o desenvolvimento ou agravamento de transtornos mentais. Em meio a essa nova realidade, de acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), 93% dos países interromperam seus serviços essenciais para tratamento e conscientização dessas doenças.

Esses dados revelam que, apesar das campanhas realizadas e das informações disponíveis na internet, estas ações não são suficientes para que o assunto não seja mais um tabu na sociedade. Isto porque muitos ainda enxergam os transtornos mentais de forma pejorativa e consideram que os tratamentos não funcionam ou são para indivíduos “loucos”. Portanto, é necessário começarmos a discussão desde o princípio:

– Você sabe o que é saúde mental?

De acordo com o Hospital Israelita Albert Einstein, “o termo está relacionado à forma como uma pessoa reage às exigências, desafios e mudanças da vida e ao modo como harmoniza suas ideias e emoções”.

Durante o dia, todos possuem diversas emoções, sejam elas ruins ou boas. O que diferencia uma pessoa com saúde mental de uma que não a possui é a forma com que lidam com os diferentes sentimentos que vivenciam.

Cada patologia psicológica afeta a reação sobre determinadas sensações. Um exemplo é o transtorno bipolar, no qual o indivíduo passa por períodos de mudanças drásticas de humor. As alterações podem durar dias ou meses, variando entre extrema euforia, conhecido como mania, – na qual há dificuldade para dormir, distanciamento da realidade, impulsividade, hiperatividade e outros sintomas-, e a depressão – cujos sintomas são apatia, desesperança, perda de interesse etc.

Contudo, é importante ressaltar que o desequilíbrio emocional facilita o desenvolvimento de doenças psicológicas. Dessa forma, é necessário observar se estamos em harmonia com nossos sentimentos e o quanto eles nos afetam. É preciso olhar para dentro de si e se questionar: “Como estou? Como lido com as emoções que surgem durante a minha rotina?”.

Atualmente, os transtornos mentais têm se tornado cada vez mais comuns. Isto ocorre, porque há maiores exigências em diversos âmbitos, todos intensificados pelas redes sociais.

– Você sabe como a tecnologia influencia para o desenvolvimento de doenças mentais?

As redes sociais surgiram como uma grande inovação. Teria como função aproximar os indivíduos apesar da rotina corrida exigida nos dias atuais. No entanto, surgiu com ela um grande problema: a pressão estética e a necessidade de uma vida perfeita, sem momentos infelizes.

Se antes o ditado “a grama do vizinho é sempre mais verde” já era muito comum, com a internet essa realidade se intensificou. Ambientes virtuais como Instagram e Facebook tornaram-se espaços exibicionistas, em que o maior objetivo é a obtenção de aprovação por meio de likes, comentários positivos e seguidores. Dessa forma, surge uma pressão ainda maior para se encaixar nos padrões de beleza e estilo de vida.

Portanto, não é incomum que os indivíduos se comparem e, assim, passem a visualizar a própria realidade de forma pejorativa. Esta pressão para vida e aparência perfeita gera um desequilíbrio emocional e uma busca incansável pela aprovação. Deste modo, constrói-se um medo da reprovação, uma necessidade de viver tudo que outras pessoas estão vivendo que é considerado importante ou satisfatório, e um constante descontentamento com si próprio.

Sobre as relações dos adultos com o mundo, o Hospital Israelita Albert Einstein afirma: “Tem que ser 100% em tudo: no trabalho, na família, na academia, na escola. Temos que falar mais sobre isso, temos que nos permitir sofrer quando é preciso, reconhecer o sofrimento do outro”. Estes aspectos são estimulados com o compartilhamento do cotidiano na internet, especificamente a exposição apenas dos momentos de alegria. Contudo, não é só a internet que influencia para a falta de saúde mental.

– Como o ambiente de trabalho pode gerar o desequilíbrio mental?

A jornada de trabalho exige o desprendimento de boa parte do tempo da rotina. Os indivíduos passam grande parcela do dia em seus respectivos empregos. Dessa forma, se a profissão não é satisfatória ou se não há o rendimento financeiro necessário para uma vida estável, pode gerar um desagrado. Além disso, um ambiente de trabalho estressante, no qual os profissionais vivem em constante pressão ou desentendimento, faz com que os indivíduos que ali exercem suas atividades passem a desenvolver um desequilíbrio emocional.

Esta realidade já pode ser observada através de dados. A Previdência Social registrou em 2016 o afastamento de 75,3 mil trabalhadores em razão de quadros depressivos.  A advogada Érica Coutinho, especialista em Direito do Trabalho do escritório Roberto Caldas, Mauro Menezes & Advogados, revelou em entrevista: “As origens da depressão relacionadas ao ambiente do trabalho, embora possam ser múltiplas, têm alguns caminhos conhecidos: cobrança de metas excessivas e/ou inatingíveis; episódios de assédio moral; incentivo exacerbado à competitividade entre trabalhadores; necessidade de cumprimento de jornadas extenuantes; ausência completa de sentido nas atividades laborais; ameaças constantes de demissão; utilização massificada de ideias corporativas etc”.

– O ambiente familiar

Outro importante aspecto para o desenvolvimento e tratamento de patologias psicológicas é o ambiente familiar. Isto porque pode tanto ser a causa de desequilíbrios emocionais, como também podem ter importante papel no processo de aceitação e até mesmo cura.

As relações parentais tendem a ser intensas. Um ambiente familiar desacolhedor, em que há constante pressão para corresponder expectativas de outros, assim como a repressão da verdadeira personalidade do indivíduo, geram estresse e uma desaprovação de si próprio. Esta característica é sustentada na constante reprovação apresentada dentro de casa, lugar no qual deveria existir compreensão e respeito.

Contudo, não são apenas em famílias disfuncionais que os parentes podem representar uma dificuldade. Em relações com pacientes com doenças mentais, é comum que os parentes não saibam lidar com a enfermidade. Em casos de depressão, por exemplo, aqueles que convivem com o indivíduo adoecido não conseguem compreender o porquê da extrema tristeza sem motivo aparente ou ficam irritados e frustrados com a falta de disposição, que existe até mesmo no querer melhorar. Normalmente, isso ocorre pela falta de conhecimento sobre a patologia.

Contudo, o apoio familiar durante o processo de tratamento é de extrema importância, seja pelo reconhecimento da doença ou mesmo no incentivo em procurar ajuda e acompanhamento médico. Armando Ribeira, psicólogo e coordenador do Programa de Estresse da Beneficência Portuguesa de São Paulo, afirma: “Dependendo do grau da doença, a pessoa tem muita resistência a procurar ajuda sozinha. A família é que a leva ao profissional e que a motiva a não abandonar o tratamento”.

Frequentemente, há uma questão que colabora para que o indivíduo evite pedir ajuda assim como também influencia na falta de apoio familiar:

– O preconceito

Durante muito tempo, os transtornos psicológicos foram observados como “loucura” e, os indivíduos considerados loucos deveriam ser excluídos da sociedade. Constantemente essas enfermidades eram concebidas como fraquezas do indivíduo, algo sobre o qual há como atuar sobre, mas o enfermo apenas não o faz.

Apesar dos avanços na área da psicologia e psiquiatria, ainda há uma dificuldade em reconhecer que esses quadros clínicos são doenças, que exigem tratamento. “Justamente pelo preconceito e julgamento, as pessoas não querem ser reconhecidas no lugar daqueles que têm transtornos mentais, com o risco de serem vistos como fracos ou descontrolados, algo que vai desde questões morais até as questões éticas. No caso de crianças então, a família se sente muito culpada e exposta” diz o site do Hospital Israelita Albert Einstein.

– Evento do Dia Mundial da Saúde Mental

Portanto, no dia 10 de outubro serão realizadas atividades para a maior conscientização sobre o que é a saúde mental. O evento tem como lema “Ação pela saúde mental: vamos investir” e é organizado pela Organização Mundial da Saúde. Serão realizadas atividades virtuais em todo o planeta e haverá respostas sobre questões como: ter saúde significa não ter nenhuma doença? Assim como também terão conversas sobre tratamento e como a saúde mental têm que estar alinhada com a saúde corporal.

Estarão presentes líderes mundiais, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, especialistas em saúde mental e celebridades convidadas. Nas atividades online será explicado o que podemos fazer para melhorar nossa saúde mental e contribuir para que todas as pessoas que precisam de atenção à saúde mental de qualidade tenha acesso a estes serviços.

Contudo, o principal foco das atividades da campanha deste ano é aumentar os investimentos nessa área da saúde. Isto porque os investimentos ainda são muito baixos, enquanto os casos estão cada vez mais recorrentes. A meta é que, a partir de 2020, em média, os países gastam bem mais do que apenas 2% de seus orçamentos de saúde para o tratamento mental, como fazem atualmente, realidade já apontada pela OPAS.

Em breve vamos criar um grupo de conexões para nos manter saudáveis em varias áreas da vida, e sem dúvida a mental é uma das mais importantes!

Se vc tiver interesse em participar ou conhecer mais deste grupo de conexões, nos avise aqui ou se inscreva neste link: https://avra.org.br/inscricao

Bibliografia:

https://www.setembroamarelo.com/

https://www.paho.org/pt/campanhas/dia-mundial-da-saude-mental-2020

https://www.santacasasp.org.br/portal/site/pub/12928/dia-mundial-da-saude-mental

https://www.einstein.br/saudemental

https://www.adeb.pt/pages/o-que-e-a-saude-mental

https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Saude-Mental

https://hospitalsantamonica.com.br/a-saude-mental-e-a-importancia-dela-na-vida-das-pessoas/

https://www.saudeocupacional.org/2017/04/753-mil-trabalhadores-brasileiros-foram-afastados-por-depressao-em-2016.html#:~:text=%C3%89%20o%20que%20revela%20a,e%20comportamentais%20no%20mesmo%20ano.

https://www.abrata.org.br/familia-e-peca-fundamental-no-tratamento-da-depressao/