O racismo tornou-se uma expressiva pauta nos últimos anos, evidenciada devido a quantidade de casos de racismo denunciados através das mídias digitais e dos jornais. Em 2020, a morte brutal de George Floyd, um afro-americano, causou protestos por todo os Estados Unidos. O assassinato de João Alberto Silveira Freitas por um segurança do Carrefour, dentro do supermercado, causou revolta entre a população do Brasil. O homicídio do menino João Pedro gerou uma onda de protestos nas redes sociais e nas ruas brasileiras. Em 2021, o Big Brother Brasil teve sua edição com maior número de participantes negros, entre os quais estava Lumena, personagem que suscitou diversos debates relacionados à questão da discriminação por cor da pele. O movimento antirracista discorre sobre diversas questões ainda pouco faladas na nossa sociedade, como, por exemplo, o colorismo.
Em recente entrevista, Meghan Markle, a esposa do príncipe Harry, relatou a preocupação da família real sobre “o quão escura seria a pele do filho do casal”. O pai de Meghan é um homem negro, já sua mãe é uma mulher branca, portanto a atriz apresenta um tom de pele mais escuro. Apesar da sua cor, Markle define-se como birracial. As diferentes identidades raciais são derivadas do colorismo. Esse termo é utilizado para distinguir as distintas tonalidades de pele negra. Era exatamente essa a discussão dentro dos aposentos da realeza: o quão preto seria o filho do Harry e Meghan?
Nos Estados Unidos, por exemplo, a questão permeia a árvore genealógica: você possui alguém negro na sua família? Se sim, você provavelmente é considerado como tal. Essa construção ocorre pela forma como o país lidou com a abolição da escravidão. No país norte-americano, a forma encontrada para manter a população do país branca foi a segregação. Até a década de 1960, pessoas com tons de pele mais escuros não podiam frequentar os mesmos locais que pessoas claras. O relacionamento interracial, então, era altamente reprovado. Portanto, as famílias mantiveram-se inteiramente brancas por um longo período.
Já no Brasil, o último país a abolir a escravidão no continente Americano, a política da miscigenação foi a forma encontrada pelo governo da época para “embranquecer” a população. Essa prática incentivava os relacionamentos interraciais, pois o filho do casal nasceria menos preto do que seu pai ou sua mãe negra. Além disso, é importante ressaltar que, durante o período da escravidão no país, a elite branca estuprava mulheres indígenas e africanas, fato retratado constantemente nas obras do Padre Antônio Vieira, no século XVI. Dessa forma, praticamente toda família brasileira possui descendentes negros. Então a cor de pele não basta para identificar quem é branco ou não. Os traços negroides apresentam um papel muito importante para essa distinção.
A fotógrafa brasileira Angélica Dass criou um pantone explicitando o colorismo através das fotos que tirava de diferentes indivíduos. Nessa espécie de catálogo, Dass mostra como duas pessoas de tonalidades de peles semelhantes são lidas de formas diferentes: uma seria descrita como negra, enquanto a outra, como branca.
O colorismo demonstra que mesmo pessoas que não são retintas, ou seja, são miscigenadas, sofrem com o racismo. Há diversas formas de sofrer discriminação pela cor de pele ou descendência, e é através do conceito trazido pelo movimento antirracista que podemos observar, entender e estudar as diversas camadas do preconceito racial, o qual atinge as mais distintas nações e classes raciais. Portanto, as questões abordadas nos últimos anos são de extrema relevância para a conscientização das sequelas causadas por 300 anos de escravidão e para que saibamos o que deve ser alterado para alcançarmos uma sociedade mais igualitária.
Bibliografia:
https://claudia.abril.com.br/cultura/meghan-markle-e-negra/
https://www.politize.com.br/colorismo/
https://mundoeducacao.uol.com.br/historia-america/segregacao-racial-nos-estados-unidos.htm
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/abolicao-escravatura.htm