“Todos sabem que se você for mordido por um lobisomem quando a lua está cheia, você vira um lobisomem também. Então, de repente, você está lá pensativo e imagina o que aconteceria se um lobisomem mordesse um peixinho-dourado. E se um lobisomem fincasse sua presa em cadeira e alguém sentasse nela logo depois? As ideias surgem muito do ato de sonhar acordado” – Neil Gaiman

Em uma noite chuvosa na Suíça, uma garota de 17 anos passava suas férias com seu futuro noivo e com mais um outro colega em uma residência. Já que estavam impedidos de sair quando decidiram se desafiar a escrever uma história de terror. A garota não quis participar da brincadeira a princípio, mas após ter uma visão de um jovem dando vida à ossos que recolhera de um cemitério, ela teve uma ideia para o seu conto de terror que escreveria para o seu futuro noivo, Percy Bysshe e seu amigo, também escritor, Lord Byron. Foi assim que Mary Shelley escreveu a primeira história de ficção-científica da história: Frankenstein.

Esse pequeno conto de terror depois foi ampliado e se tornou uma das obras mais importantes da literatura mundial. Shelley criticou os avanços da ciência e o próprio papel do ser humano se este tivesse o poder de criar uma vida do zero, e também a ganância e a perversidade que poderia surgir a partir disso. Isso tudo nasceu a partir de uma visão, depois virou um conto e depois um romance completo. Não há um único foco para se obter inspiração e nem sempre somos agraciados com a habilidade de interpretar uma visão de forma majestosa, mas temos a capacidade de sempre colocar nossos talentos em prática. Neil Gaiman, escritor de livros de sucesso como “Coraline” e “Deuses Americanos”, diz que o primeiro passo para escrever bem é… escrever.

A inspiração para conseguir efetuar uma atividade nem sempre vem de uma vez, isso é uma verdade principalmente para escritores (e eu recomendo profundamente que você leia o artigo sobre o Dia do Escritor*, disponível aqui no blog também). O que nos resta é tentar manter uma rotina de sono e uma alimentação saudável, praticar exercícios e passar o tempo com quem amamos, mesmo que à distância, e aproveitar a disposição que surge depois de cuidar de nós mesmos fazendo cada uma dessas coisas. É válido citar Gaiman mais uma vez (sim, é o escritor favorito de quem vos escreve), justamente por ele afirmar em uma discurso para os formandos da University of the Arts Class de 2012 que a resposta para esse tipo de pergunta — de onde vem a inspiração? — é fazer boa arte, isto é, fazer algo na maior qualidade que você consegue, nos dias ruins e nos bons também. É mais difícil do que parece, sim, mas, ao terminar, é muito comum ter a sensação de que acabou sendo mais simples do que se esperava.

Talvez a inspiração não apareça milagrosamente em uma visão enquanto ficamos isolados por causa de uma tempestade no século XIX ou uma pandemia no século XXI, mas ela pode sim vir ao longo de um processo de descobrir o que queremos enquanto fazemos e não há vergonha alguma nisso. Se sonhar acordado é um passo para achar a inspiração, então que mais sonhos sobre a beleza que o mundo tem a oferecer comecem a surgir, e daí pensaremos no que nos deixa inspirados.

– Italo Marquezini

 

*texto postado no dia 24 de Junho de 2020, Dia do Escritor: https://avra.org.br/dia-do-escritor/

Referências bibliográficas:
https://www.writingclasses.com/toolbox/tips-masters/neil-gaiman-8-good-writing-practices