Na cultura pagã, o homem era considerado parte integrante da terra: uma concepção chamada por “Gaia”. Nesse sentido, o mundo era um ser indivisível, uno e interligado. Com a expansão da sociedade judaico-cristã, a natureza passa a ser vista como uma dádiva a ser desfrutada. É a partir dela que o homem então, poderia garantir sua própria sobrevivência. É através da agropecuária e da mineração, que o ser humano encontra sua forma de subsistência. Com a expansão dessas atividades, assim como a abertura de estradas e hidrelétricas, o desmatamento ocorre. Ações como essa garantiram ao Brasil uma importância global no comércio de commodities. No entanto, essa prática não está livre de efeitos colaterais.
Existem diversos ecossistemas no Brasil, como a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, etc, que são exploradas pelas atividades econômicas e geram o desmatamento em larga escala nessas regiões. Cada um destes biomas possui características próprias e diversas. A Mata Atlântica, por exemplo, com mais de 20.000 espécies vegetais e a segunda maior floresta em extensão no país, é destruída por meio de queimadas, desflorestamento e degradação do ambiente desde à chegada dos portugueses. Hoje restam apenas 7% da mata original.
Discussões acerca do uso da Amazônia quando abrangem interesses econômicos são uma questão bastante complexa. Este bioma possui uma fauna e flora extremamente diversa e a maior floresta tropical do mundo, dessa forma, possui grande importância na preservação do meio ambiente. As terras da Amazônia foram pela primeira vez regulamentadas apenas em 1976, durante o período da ditadura militar. Há nela um papel enorme na redução de carbono para a regulação do clima da atmosfera. Ademais, as demarcações de terras indígenas não ocorrem apenas nessa região, como em todo o Brasil, e são garantidas pelo Art. 231 da Constituição Federal de 1988. Desse modo, a situação não envolve apenas o ambiental, envolve também o social.
Como expressado no início desse texto, as atividades agropecuárias e mineradoras realizadas pelo ser humano trazem consequências. Quais são elas? Bem, os focos de queimada passam a ser mais comuns e muitos territórios ambientais, com biomas e recursos naturais importantes, são destruídos. A emissão de CO2 deixa de ser amenizada, principalmente quando se trata da destruição de florestas tropicais, áreas verdes que têm sido cada vez menores não só no Brasil, como na África e no sudeste asiático. E regiões antes demarcadas para a manutenção de uma diversidade milenar, já muito prejudicada, dos costumes e tradições de mais 300 povos indígenas ficam ameaçadas.
A solução de “compensar” essa diminuição com reflorestamento nem sempre é efetiva. Isso ocorre justamente por causa de características como fauna, flora, clima e relevo que cada ecossistema possui. Na China, por exemplo, durante um plantio massivo de árvores com o objetivo de reverter o avanço da desertificação a partir dos anos 70, seca e morte de plantas começaram a ocorrer, além de uma queda no volume do lençol freático. Esse problema está diretamente ligado pelo fato de usarem árvores de espécies não adaptáveis às características da região de plantio.
É crucial ressaltar que 90% do desmate na Amazônia ocorre de forma ilegal, e são essas ações que o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, diz buscar zerar durante uma entrevista a BBC News. Por outro lado, Salles, durante a reunião ministerial do dia 22 de abril, sugeriu aproveitar a oportunidade gerada pelo coronavírus para efetuar mudanças de regras relacionadas à proteção ambiental e da área da agricultura. De acordo com Salles, isto deveria ocorrer enquanto a mídia permanecia focada em abordar a pandemia e a crise no sistema público de saúde trazida pelo vírus. O que gerou críticas de lideranças ambientalistas, como a jovem Greta Thunberg.
Há muitas oposições do próprio governo às ações ambientalistas. Muitas delas, sob o argumento de que existe uma intenção em diminuir o papel do Brasil no mercado econômico mundial, embora muitos dos fundamentos utilizados pelos ativistas sejam de caráter científico. A preocupação gerada por essa postura do Estado não envolve apenas fatores ambientais. O próprio desagrado por profissionais da área do agronegócio em relação à preservação ambiental vem pela imagem negativa que essas ações podem gerar no exterior, o que prejudica o comércio ao qual estes estão inseridos. Na mesma entrevista para a BBC, sobre essa questão, Salles compara a realidade europeia com a do Brasil, evidenciando que o país ainda possui 66% de sua vegetação nativa preservada e está indo bem no cumprimento de suas metas do Acordo de Paris.
O Acordo de Paris foi um empenho mundial centrado no combate às emissões de poluentes e alterações climáticas. Assinado em 2015, o acordo foi firmado por 195 países. Recentemente o EUA deixou o acordo, apesar de serem o segundo maior emissor de gases do efeito estufa, após a entrada de Donald Trump, no cargo da presidência. Embora o atual governo brasileiro acompanhe as tendências norte americanas, o país ainda faz, sim, parte do projeto para a proteção do meio ambiente. Após a reunião ministerial no dia 22 de abril, ser publicada, o Ministro do Meio Ambiente esclarece, em seu Twitter, sua fala durante o encontro ao afirmar que sempre prezou pela desburocratização para um melhor desenvolvimento sustentável do país. Nessa perspectiva, percebe-se que desmatamento ainda é uma pauta a ser debatida. As informações apresentadas aqui ainda são insuficientes para gerar discussões aprofundadas, no entanto, jamais devem ser ignoradas.
O desmatamento é, e sempre será, assunto. E cada vez mais, percebemos que suas consequências ficam mais claras. Ou até mesmo mais escuras. Este fato pode ser observado através da fala do Ministro do Meio Ambiente que, embora de acordo com as propostas sempre defendidas por ele, sequer viria a público se não fosse pela divulgação do vídeo que registra seus verdadeiros propósitos.
– Italo Marquezini
Bibliografia:
https://www.youtube.com/watch?v=uflBBRUJCfk&t=243s
file:///C:/Users/italo/Downloads/REDACAO_PEDRO_MEIO_AMBIENTE_23.04.20%20(2).pdf
https://www.youtube.com/watch?v=t0WiAn_TIkI
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51229884
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/07/090722_amazonia_timeline_fbdt
Ótimo artigo. PARABÉNS.